"Os últimos dois anos têm sido muito difíceis sem você. Não impossíveis de serem vividos, mas dificílimos. É inacreditável o número de vezes que me pego pensando em você todos os dias, num misto de tristeza e gratidão por ter me ensinado tanto - e eu, teimosa, aproveitei tão pouco - seja ao acordar, durante o trabalho ou quando olho para os céu à noite, procurando as estrelas que me mostrava quando criança. E aí vem aquele nó na garganta, apertadíssimo (falta-me o ar) e os olhos ardem. Deus! Como pode machucar tanto nosso espírito a ausência da mãe! Queria tanto poder acordar desse sonho cinzento e me deparar com seus vibrantes olhos azuis... Pudera ouvir sua voz ora calma, instruindo paciência, ora agitada narrando um acontecimento ou trocando os nomes de todos da família, até chegar ao meu... Se ao menos pudesse te ver uma vez mais e dizer tudo o que não pôde ser dito, todos os passeios que não puderam ser feitos, as risadas e lágrimas que não foram compartilhadas... O pedido de desculpas por não ter feito mais, que ficou engasgado diante do medo de perdê-la...
Tantas palavras deixaram de ser ditas! Todos os dias escrevo um pouco o que o tempo não permitiu que vivêssemos e o que aprendo com a maturidade. Cito ao vento. Em algum lugar, repleto de harmonia e contemplação, sei que me ouve e que emana luz e vibrações positivas para minha vida e desejo retribuir com todo meu amor e gratidão. Obrigada! Que Deus em sua infinita misericórdia e sabedoria a recompense pela bondade e doação com as quais entregou-se à maternidade nesta vida. Pelo desapego às coisas materiais e diária labuta em benefício ao próximo sem esperar nada em troca. Por todo sacrifício feito em nome dos que amava e de quem sequer conhecia. Preciso aprender com isso!
Pois bem, escrevi há algum tempo, que não entendo o motivo da existência do dia de finados, o dia dos mortos. Relembrar a perda, prolongar o sofrimento de quem perdeu um ente ou amigo próximo a data, reacender a dor que parecia ter virado cinzas... Muitos poderão responder que é importante não esquecer, cultuar a memória de quem se foi (como se pudéssemos esquecer das pessoas que conviveram conosco e nos marcaram das mais diferentes maneiras). O fato é que não gosto de finados. Não gosto dessa movimentação de compras de velas e flores, limpeza geral nos cemitérios e aqueles passeios intermináveis pelos corredores dos mesmos, relembrando o falecido dali, revendo a lápide daqui... Mórbido demais para o meu gosto.
Acredito na continuação da vida após a morte do corpo físico, da evolução espiritual, de situações astrais que fogem à nossa compreensão terrena.
E para mim, mãe querida, você continua mais viva do que nunca, me orientando, cuidando e protegendo. E se não fosse assim, qual a razão para tanto amor?
A morte não é nada. A vida continua..."