sábado, 7 de maio de 2011

Historinha pra boi dormir - continuação

... Depois de muito tentar entender, a princesa dos olhos caídos percebeu que tinha caído no conto do visconde (como tantas outras antes dela, que imaginaram mundos e fundos com o tal, iludidas em seu altar particular pseudo-intelectual).
Pois bem, Sua Alteza real, após inúmeras perseguições infrutíferas, decidiu colocar um ponto final naquilo tudo e assumiu nova postura diante de seu principado: a de "não foi comigo, Bebel!" - e vestiu a máscara da indiferença e casualidade para tocar a vida. Feliz escolha.
O "oráculo" de plantão - (sim, nessa história tem oráculo também, tal qual na mitologia escandinava ou grega) - é que não ficou muito contente ao saber disso, pois em seu íntimo trazia toda a mágoa e ódio pela felicidade alheia - aquela que nunca conseguiu conquistar pelas limitações de sua própria sorte. Jogando com o destino dos outros, o oráculo predestinava suas condutas como se dominasse o jogo da vida, mal sabendo o que a própria desenhava em traços firmes para o príncipe - ou visconde, como queiram - e a princesa escolhida. Enquanto destilava seu veneno em sua bat-caverna, o oráculo desconhecia a relação do casal real. Desconhecia completamente, em contradição aos "poderes" que tinha de predestinação, a união de ambos e a rotina ininterrupta que dividiam. Pobre oráculo. Quisera ter ignorado, tal qual todas as outras consortes o tratamento trivial e desinteressado que recebera do príncipe. Teria sido mais honroso, mas... Parafraseando Sir William - 'Quase sempre as mulheres fingem desprezar o que mais vivamente desejam.'
Voltando à princesa dos olhos caídos (porque o oráculo é secundário nessa história), após algum tempo de recolhimento, percebeu que poderia ser feliz em seu próprio reino, livre das intrigas do oráculo e liberta de seu sentimento possessivo. Tocou a vida, again.
O visconde, atento a todos os passos do inimigo, tivera o cuidado de registrar todos os esboços da conturbada história e vendeu-a para uma editora da nova Europa para virar best-seller. E assim, todos viveram na real, para sempre.
F i m

Ps: Menos o oráculo, que ainda teima em prever a vida de todo mundo. Tsc, tsc. Out.

6 comentários:

  1. Conto moderno, muito bom! Gosto da forma com a qual desvia o pensamento do leitor, sem caminhar para o óbvio. E misturar príncipes, mitologia e tiradas atuais tornou a leitura gostosa, nada previsível. Tem um quê de metáfora, por certo, o que torna mais interessante! Bom domingo, moça!

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  2. Embora a pergunta seja capciosa, caro Tom, respondo. Claro que sim. Creio que toda mulher se depare com um visconde em certa etapa da vida. A questão é: sou capaz de provocar mudanças, torná-lo melhor ou não? Como não levo o menor jeito para viscondessa ou qualquer outro título nobre, deixo para quem sonha acordada. Me interesso mesmo é pelos direitos autorais da história, que no caso, são meus.

    Enjoy!

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  3. Rs... Entendo, e acho que até sei que está com a razão. Permita-me apenas colocar que os ANSEJOS femininos, esses, em muitas ocasiões são culpados. Insistem em alimentar todo tipo de sentimento. Enfim, gostei do conto.

    Até mais...

    TOM

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  4. Perfeito, Soraia. Você me impressiona com essa capacidade de tecer uma história tão sem-pé-nem-cabeça que no fim acaba por, na maior das surpresas, fazer todo sentido. E como eu tenho essa paixão por encontrar coerências em coisas incoerentes até elas parecerem ter sentido, não é a toa que sempre nos entendemos muito bem, e nos inspiramos cada vez mais sempre nos tornarmos mais bem aventurados no mundo das palavras, assim como no mundo um do outro. Grande abraço, minha amiga.

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  5. Thank's, Tom e Igor, meu escritor queridíssimo!

    Relendo esse conto, ri baldes! Ai, como é bom encontrar nas palavras, motivo para gargalhar! Beijos!

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