Hebe Camargo entrevista Dercy Gonçalves em seu programa na Rede Record, em 1969 - Foto/Divulgação
Pra quem se lembra, há 4 anos presenciamos através
da mídia, um enterro incomum. Ao invés de silêncio e choro, bateria de escola
de samba e aplausos. Foi assim que a comediante mais polêmica que o Brasil já
conheceu, nascida Dolores e conhecida como Dercy Gonçalves despediu-se de seus fãs
e simpatizantes. Curiosamente no ano de 2008 perdemos também a antropóloga Ruth
Cardoso que a maioria dos brasileiros aprendeu a chamar de primeira-dama,
título que a professora universitária repudiava. Naquele ano ainda, Hillary Clinton perdeu a
corrida por uma vaga no partido democrata para disputar as eleições
presidenciais, Ingrid Betancourt foi libertada pelas FARC e Aleida Guevara
esteve em Cascavel para proferir palestra sobre o legado de seu pai,
revolucionário sonhador para alguns, terrorista militante para outros. A
Argentina agonizava (e ainda agoniza) em sua crise interna, cuja protagonista, Cristina Kirchner,
poderia muito bem entoar em família o hino Don’t cry for me Argentina sem temer
qualquer crítica: o papel de protagonista sofrível do país vizinho lhe cai muito bem. Setembro de 2012, 4 anos depois, presenciamos novamente mais um enterro incomum: a alegria manifestada em forma de apresentadora, se cala. Vai embora, sai de cena sem dar o último selinho em seu público. Em Cascavel, duas mulheres disputam a corrida ao paço municipal, enquanto outra concorre como vice, depois de enfrentar uma disputa consigo e com o partido. E aqui não cabem juízos de valor ou críticas - quaisquer que sejam - sobre a candidatura das mesmas. O foco é: o que estas mulheres têm em
comum para ganhar as páginas dos jornais e ocuparem espaço na mídia? Em algum
momento de suas vidas, elas arriscaram.
Errando ou acertando, saíram da posição
de esposa, mãe, profissional e partiram em busca de um sonho acalentado talvez
na infância, ou aflorado por qualquer circunstância que o valha. Estão
tentando. E digo, com absoluta convicção, que é muito mais cômodo e seguro (por
que não dizer?) limitar-se ao exercício de nosso trabalho – apreendido nos
bancos escolares ou na escola da vida – e às atividades de casa do que adentrar
no universo masculino e posicionar-se junto (ou contra) àqueles que fizeram da
política e dos outros setores, um ambiente predominantemente masculino. E não
torçam o nariz argumentando que as mulheres têm direitos iguais e que entram
nessa por oba-oba.
Poucas arriscam. Poucas se expõem. Por isso quero
registrar a tentativa, a luta aguerrida e ousada de muitas que desafiam o
poderio que impera por aí, lutando contra o preconceito arraigado em nossa
cultura. Dizem por aí que há uma pesquisa que comprova que a mulher é
incorruptível - ou menos que o homem. Sinceramente, creio não ser prerrogativa do
gênero feminino e sim de caráter. E caráter independe de gênero. Mas
comecei essa prosa falando em Dercy Gonçalves e na saudade que tenho de ver sua
irreverência escrachada e a autonomia de falar o que bem quisesse que a
experiência dos anos lhe conferia. Saudade de sua ousadia, que certamente
soltaria um “que p&#*a é essa?” se pudesse ler este artigo. Saudade agora da simplicidade e carisma de Hebe Camargo, que improvisava no palco e divertia seu público até quando cometia gafes. Era verdadeira. Aliás, poucas pessoas vivem
quase um século sem rabo preso com ninguém; elas conseguiram. Mas o importante
mesmo é tentar. Arrisque-se mulherada!
Só aplausos para você, Soraia !!
ResponderExcluirBelo texto!!
Lamentavelmente, nessa sociedade hipócrita em que vivemos, a mulher que ousa, que corre atrás de seus sonhos é tida como uma marginal, fora dos esteriótipos de mulher do lar, a certinha,criados por essa mesma sociedade.
Bela homenagem a essas mulheres maravilhosas,lutadoras, que correram atrás dos seus ideais, que viveram, e algumas ainda vivem, anos à frente das suas gerações.
Lembrei de Leila Diniz agora.
Um beijo e boa tarde.
Obrigada, Lau Milesi!
ResponderExcluirA intenção é enfatizar a luta, a tentativa, a vontade de crescer e melhorar as relações e não torná-las competitivas! Bjs e apareça sempre!
Chiste, maldades;
ResponderExcluirElas estão cantando lá no céu
-Silvio Santos vem aí, pam pam parara pampam..