Conhecida como a doença da mulher moderna, a endometriose acomete cerca de 10 a 15 milhões de brasileiras e atinge mulheres da primeira à última menstruação. A cada dia, mais e mais mulheres descobrem ser portadoras desta enfermidade, que não tem cura e provoca infertilidade e muita dor. Pedaços do endométrio (tecido que reveste o útero) se espalham por locais distintos do seu habitat natural. Várias teorias tentam explicar a causa da doença. A mais difundida é a da menstruação retrógrada. Quando não há a fecundação (a gravidez), o útero expulsa o endométrio na forma de menstruação. Em vez de ela descer pelo canal da vagina, ela volta pelas trompas e se espalha em órgãos da pelve e do abdômen. Onde se implanta, formam-se os focos. Esses focos se instalam nos órgãos provocando inflamações ao seu redor, muita dor e aderências entre eles (vai grudando os órgãos uns aos outros). Em casos mais raros, atinge o pulmão, a pleura e até o cérebro. A cólica muito forte, que provoca desmaios, tonturas, que deixa a mulher de cama, é considerada o primeiro sintoma. Mulheres que tentam engravidar a mais seis meses e sem sucesso podem ter endometriose.
Outros sintomas são: sangramento intenso e irregular, dor abdominal e inchaço, dor lombar, cansaço ou fadiga, diarreia ou prisão de ventre, dor durante e após o sexo, depressão, enxaqueca, infecções vaginais recorrentes, dor para urinar, infecções urinárias, náuseas, dores de estômago e em todo o corpo. Cerca de 40% das mulheres se tornam inférteis, mas a endometriose tem outras consequências. E muitas delas extremamente dolorosas, como a dispareunia, a dor durante ou após o sexo. O perigo é que 30% das portadoras são assintomáticas. É também uma doença silenciosa e que causa muitos abortos espontâneos. Por ainda ser um enigma para a medicina, é desconhecida até mesmo de muitos ginecologistas. Para eles, as dores “tipo cólica” antes, durante ou após o período menstrual são normais. Esse pensamento retarda ainda mais o diagnóstico que demora em média de 8 a 12 anos no Brasil. O exame de imagem mais indicado para detectá-la é a ressonância magnética da pelve.
Muitos médicos indicam a laparoscopia como exame, mas na verdade esse procedimento é uma cirurgia com anestesia geral. E a cirurgia é o último passo para tratar a doença. É importante tentar o tratamento medicamentoso primeiro, pois a partir da primeira operação, a chance de reincidência (cirurgias repetitivas) é muito grande.  E é aí que mora o perigo, já que a própria cicatrização pode nos trazer mais aderências. Por isso, a laparotomia (cirurgia aberta, tipo cesárea) não é indicada para quem tem endometriose. A mais indicada é a laparoscopia, a cirurgia minimamente invasiva, com mínimas incisões na virilha e umbigo. A partir da biópsia sabemos quais órgãos foram atingidos pela doença e qual o grau em que ela está (de I a IV). E é apenas com o diagnóstico precoce será possível salvar a próxima geração de portadoras. A mulher que sente aquela cólica que a impede de fazer suas atividades cotidianas, que não melhora com o primeiro analgésico, precisa procurar o ginecologista e já mencionar a suspeita da doença.

Caroline Salazar
Jornalista e editora do blog A Endometriose e Eu (http://aendometrioseeeu.blogspot.com.br/). É portadora de endometriose e sofreu 21 anos com as terríveis dores da doença. Para informar sobre esta doença enigmática, compartilhar informações e para que a endometriose passe a ser reconhecida como social e de saúde pública no Brasil, ela criou o blog e hoje é o mais lido do mundo sobre o assunto.