quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ARTIGO - Catilinárias do Mundo Moderno

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?...”
Amigo leitor, o texto acima te lembrou algo? Cuidado com o que vai dizer, pois o discurso de Cícero contra Catilina, cônsul romano, datado de 109 a.C. deu origem a uma das principais formas de ensino de argumentação em todo o mundo e o conjunto de seus discursos no senado contra o político cruel e ambicioso, ficou conhecido como Catilinárias. Banho de cultura e civilismo romano? Óbvio que não. Quero chamar sua atenção para a incrível semelhança do que ocorreu no senado romano e do acontece nos dias atuais, em pleno senado federal. Um desafio: identifique, se possível, os personagens contemporâneos Catilina e Cícero. Como sou boazinha - apesar de ser mulher - dou algumas dicas: quando falamos em senador idealista, estrategista, incorruptível e de quebra, eleito em 2006 e 2008 o melhor do cenário nacional, qual nome vem à sua cabeça? Esse mesmo! E quando pensamos em parlamentar mesquinho, que se preocupa em encher os culhões de dinheiro e exercer entre os seus um falso poder que nem em mil anos convenceria a um homem sábio, lembra de quem, caro leitor? Compreendo. Aí temos um problema terrível de concorrência. Gente demais. Esse é o senado brasileiro. Dominado, contaminado por Catilinas cujo intento pessoal sobrepõe-se aos anseios coletivos disseminando a ambição e o retrocesso político contrariamente ao que se espera da famosa Casa. Inconcebível que sejamos convencidos pelo famoso discurso do “jogo do poder”, aquele que é condição sine qua non para se ganhar uma partida ou somar pontos no cassino que virou a arte da política. Apostem todos! Há fichas sobrando e os melhores apostadores terão lucro certo! O povo? Diverte-se olhando de fora, com olhos injetados pela fome e ignorância, herdados pela política do pão e circo na qual se viciou.Cícero, discurse novamente! Expulse com a ferocidade de suas palavras os inúmeros Catilinas que povoam o Senado e que tramam diuturnamente contra seu povo! E nem precisa repetir um dos trechos originais onde se lê “Oh deuses imortais! Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso? Em que cidade vivemos nós? Estão aqui, aqui dentro do nosso número, venerandos senadores, neste Conselho, mais sagrado e mais respeitável da face da terra, aqueles que meditam a morte de todos nós, aqueles que trazem no pensamento a destruição desta cidade e até a do mundo inteiro.” Interrompo aqui pois neste momento Cícero fala em passar a fio de espada o senador corrupto e sou contra a pena capital. Nem pegaria bem incitar a lei do Talião entre os parlamentares. Seria um quiprocó só. Mas fica o recado. Direto. Objetivo. E para quem a carapuça (ou vestes) de Catilina servir, aconselho uma reflexão. Sempre há tempo para mudanças. Quanto à carapuça de Cícero, tem endereço certo. Ave, Álvaro!

Um comentário:

  1. Temos apenas UM senão. Um cavalo chegou a ser senador. Provavelmente só sabia conjugar o verbo defecar, mas pelo menos isso sabia. A História não registra se Incitatus invadia o pasto alheio. Já aqui no Brasil...
    Bem, aqui os furões, raposas e chacais estão infiltrados em toda a máquina, e na presidência temos um asno, secundado na administração por urubus e hienas.
    Soraia, estamos tão mal quanto o Império Romano...

    Zé do Coco

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