Das coisas e das pessoas

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Algumas coisas me assustam nessa vida. A ousadia de bandidos que surpreendem com novos métodos para cometer crimes (e aqui refiro-me a TODAS as modalidades, incluindo as da classe política), o sangue frio demonstrado por pessoas que atentam contra a vida de pessoas da própria família, a violência praticada de forma insana e inteiramente incompreensível contra crianças e agora, a constatação de que muita gente chegou ao estágio final de desumanidade. Vou explicar.

Nunca fui petista, não fui e nem sou simpática ao ex-presidente Lula - respeito quem o seja, da mesma forma que exijo que respeitem minha posição política - mas regozijar-se diante da notícia de seu quadro de saúde, da existência de um câncer, da proximidade de sessões quimioterápicas e todo o sofrimento que o processo implica, é o fim. Aliás, regozijar-se com a doença de outrem, é o fim de tudo.

Tenho acompanhado ao longo de alguns meses a luta de algumas pessoas contra o câncer, ouvido médicos especialistas sobre possíveis causas, fatores desencadeadores da doença, sintomas, visto de perto tratamentos com quimio e radioterapia, acompanhado a dor e esperança das famílias... Não é o que se deseja nem para o inimigo, se houver um. Não, a privação da saúde, nosso bem maior não pode ser comemorada ou alardeada como mérito pela vida pregressa. Isso é pequeno demais para quem o faz.

Nas redes sociais têm aparecido fotos com frases de efeito sugerindo que Lula faça uso da saúde pública. Ora, gente. Sejamos sensatos e no mínimo um pouco espertos antes de compartilhar ou dar o repeteco nesse tipo de onda, afinal, nem preciso elencar aqui nomes do universo político que passaram por situação parecida e não fizeram uso do Sistema Único de Saúde. E por falar nisso, se houver, aqui em Cascavel mesmo, algum político que tenha utilizado os serviços do SUS quando precisou, por favor me avisem. Então que conversa hipócrita é essa de reportar ao outro o que nunca se exigiu de seus pares?

É preciso atentar para o que sai de nossa boca, da forma como expressamos nossos pensamentos. Não dá para bancar os juízes e sair por aí julgando e sentenciando pessoas usando um peso e duas medidas. Câncer é coisa séria, triste e indesejável. A qualquer um. A todos. E o mínimo que se pode desejar ao se tomar conhecimento de um fato como este, é que Lula tenha êxito em seu tratamento e que recupere a saúde, independentemente de minha opinião sobre o governo que fez. E aqui, reproduzo a fala de seu Xavier, personagem do programa do próximo sábado do Medicina & Saúde, que tão bem soube sintetizar o que acontece com quem recebe o diagnóstico de câncer: "Você tem que começar do zero, muda tudo o que pensa sobre a vida. E ter em mente, que está com um problema. Um grande problema. Mas que por trás de um grande problema, há sempre uma grande solução."

Beijos, bom domingo!