Sempre que há oportunidade, provoco o assunto: a despersonalização ou descaracterização do jornalista. Como escolhi o jornalismo como profissão, isso me diz respeito. Esta reflexão começa no ambiente de trabalho e devemos estendê-la aos demais segmentos.
Tal discussão faz parte da tentativa de entender o que é a desumanização que combatemos no dia-a-dia em nosso trabalho; desta forma, podemos ser melhores como pessoas e jornalistas, compreendendo que a melhor forma de trabalhar para isso é a vivência cotidiana empregando a rotina de jornalista e do cidadão comum - aqui abro parênteses para relembrar os ensinamentos de Cláudio Abramo, cada vez mais atuais, que dizia "... O que o jornalista não deve fazer que o cidadão comum não deva fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter opinião para fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista."
Esse tipo de inquietação, de questionamento devem ser feitos reiteradamente: o que estamos fazendo da nossa profissão e de nossas vidas? Até que ponto é difícil dissociar a condição profissional e humana do jornalista? Nossa escolha profissional foi motivada pela curiosidade sobre o mundo e a idéia de que a informação tem caráter transformador.
Soma-se a isso a incorporação de uma cidadania "especial", em parte resumida na visão sobre os jornalistas e deles mesmos como "o quarto poder". O indício de que a realidade é secundária conduz à morte do jornalismo. Desse mal sofrem todos os jornais. É por onde se afastam dos leitores. A realidade deve ser protagonista sempre, sem que a humanidade se dissocie do jornalista no momento de reproduzi-la. Para isso, ética e humanidade devem permear cada movimento jornalístico que irá, sem dúvida alguma, trazer desdobramentos à sociedade e aos atores sociais que provocam a notícia.
A realidade deve ser protagonista sempre, sem que a humanidade se dissocie do jornalista no momento de reproduzi-la. Para isso, ética e humanidade devem permear cada movimento jornalístico que irá, sem dúvida alguma, trazer desdobramentos à sociedade e aos atores sociais que provocam a notícia.
Soraia, ética é condição sine qua non para se viver em sociedade exercendo as mais diversas atividades. Abramo era um gênio, anteveu o pensamento global da comunicação sem perder o lastro de decência e ÉTICA. O que se vê por aí, não só no meio jornalístico mas em todas as áreas, principalmente no meio político, é excesso de É-TITICA!
ResponderExcluirPara variar, gostei de ler seu texto, confluência perfeita entre o pensamento e a escrita. Bom ano de 2011 a você!