Feminices

Conversando com uma de minhas amigas dia desses, tomei um susto quando ela me disse: “Tenho medo de envelhecer, Soraia, mas não tenho medo da solidão! Ter filhos somente para garantir que não ficarei sozinha no final da vida? Besteira. Vamos envelhecer juntas, não vamos? Então. Terei amigas. Quer tranquilidade maior que essa?”

Amigas. A gente tem, passa boa parte da vida selecionando as melhores, aquelas que não falham na hora que mais precisamos, que dão aquele chacoalhão na hora certa, o afago que aquece e aquieta a alma, porém não nos damos conta de quanto tempo as teremos por perto. É certo que existe uma cumplicidade surreal entre amigas. Algo que beira o inconcebível quando o assunto é coerência (e a amizade lá sabe ser coerente quando o desatino teima em tomar o rumo inverso?)...

Pensando no que minha amiga disse e na idéia maluca que teve em criar um retiro onde suas ‘futuras amigas anciãs’ vão passar o dia com ela – é claro que irá cobrar pela diária regada a jogos, diversão, chás e bolos a contento, afinal, na melhor idade tudo requer qualidade e desprendimento material – concluí que o projeto não é de todo maluco: pior que a solidão de não ter alguém, é a solidão de não ter amigos. Não consigo imaginar uma jornada de vida sem eles. As amigas, em especial. Aquelas que olham pra você e dizem: “Tuuuudo! Adooooro!” E você nem precisa perguntar do que se trata, pois a sua presença ali, é o motivo para expressões assim, contraditoriamente desconexas, repletas de significado. E um grupo de amigas precisa ser heterogêneo, ter de tudo um pouco pra ser interessante, mais ou menos como o elenco de “Feminices”, de Domingos de Oliveira: uma casada feliz, uma casada que pensa que é feliz, uma solteira realizada que inspira as outras, uma solteirona que deseja se realizar através do casamento e a separada, que pensava que era feliz, deseja se realizar e é inspirada pela solteira independente. Deu pra entender? Maluco assim, pois na amizade nada precisa fazer sentido, ninguém precisa ser perfeita ou competente o tempo todo. Há espaço para lágrimas de frustração, desabafos incontidos e momentos de ira. Ah! Tem lugar para as declarações de amor entre amigas também, afinal, não passamos boa parte da vida ao lado delas? Um carrossel doido, numa velocidade alucinante. É assim que a vida passa e que o inesperado acontece. Mas elas, as amigas, estão sempre ali, olhando com aqueles olhos de alegria – mesmo que a vida naquele momento seja barra – e exclamando “Tuuuudoooooo!”, pois naquele instante, representamos o que há de mais importante no que se convencionou chamar de amizade.

** À todas as minhas amigas, em especial, Lu, Ana, Rê, Eliana, Su, Ceiça, Mônica, Dedé e Jana