"Hoje assisti um filme lindo, onde um escritor disse a seguinte frase: "O segredo da chave do coração de uma mulher está em dar presentes inesperados em momentos também inesperados". Fiquei pensando nisso, e concluí, como alguém pode perder um grande amor, facilmente, da mesma forma que facilmente o ganhou?
Quando se inicia uma relação, o ser humano dá o melhor de si mesmo, depois, não sei bem o porquê, ele estaciona, se acomoda e vai se esquecendo das palavras doces, dos carinhos inesperados, das surpresas gostosas... E, deixa que a relação caia na mesmice, no lugar comum. Aquele mesmo lugar do qual ele queria fugir, do qual estava enjoado.
Coisa complicada o ser humano! Não me admira que tão poucos sejam vitoriosos no amor. Há que se cuidar dele como se cuida de um bebê... Com carinho de mãe, com zelo de médico, com eficiência de professor, e assiduidade de bom aluno.
Exupèry é que estava certo... "É o tempo que perdemos com alguém, que torna esse alguém importante pra nossa vida!" Não se pode amar alguém, sem se perder tempo com ele.
Todos sonhamos com um amor-paixão, com um amor-sentimento e com um amor-amizade. Todos, sem exceção, mas, só os privilegiados chegam lá. E não são privilegiados porque chegam, mas chegam porque são privilegiados... Enxergam com olhos que veem pra dentro, além das aparências, além do visível! São os fortes os vencedores no amor!
Homens são, como dizia alguém, seres estranhos; ouvem Chopin. Recitam Tagore, encantam-se com as estrelas e depois se matam! Como pode o ser humano, ser tão tolo? Como pode deixar passar a chance de ser feliz no amor?
Tenho pra mim, e não é de hoje, que a vida só vale a pena ser vivida, se envolvida na vida de outra vida.
Serei eu a única pessoa neste mundo a valorizar o amor?
Serei a única a enxergar que quase sempre jogamos pelo ralo um grande amor, por preguiça de lutar por ele?
Será que só eu, apenas eu, sei ver com os olhos do coração? Fazer a música tocar até o fim, perder-se em outro alguém, sem perder-se de si mesmo. "How do you keep the music playing" canta Tony Bennet...
Coisa difícil aos comuns mortais, sempre tão ligados à matéria, aos deveres, sempre a olhar pra baixo em direção ao seu próprio umbigo... Nunca sonhar com as estrelas, nunca olhar além do arco-íris... "Over the rainbow"... É lá que se encontra o nirvana... E quantos chegam tão perto e o perdem, é porque se detêm em atalhos sem brilho próprio... Ou com brilho enganoso!
Ah! As almas humanas... Embranquecem e se deixam murchar.
Não vou aceitar viver uma vida sem sonhos. Não vou aceitar jamais viver uma vida medíocre de mesmice e cotidiano sem esperança. Adoro o cotidiano, mas aquele cotidiano rico de alegrias, de sonhos, de tentativas mesmo que nelas se quebre a cara.
Pior que não sofrer, é ter um coração vazio, sem lugar pro inesperado, pra mágica das palavras, pros sentimentos densos, intensos, sem senso... Quem quer saber de senso em se tratando de amor? Amor com senso não tem consenso, tem pasmaceira e chatice.
Quero dizer como Gonzaguinha ... Viver e não ter a vergonha de ser feliz... Cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!!! Aprendiz do amor!!! Esse fogo que arde sem se ver...Viva Camões! Viva os ladrões de corações!!
Mas viva mesmo os ladrões que sabem aprisionar os corações roubados em maravilhosas e sutis teias. Guardam a pérola de maior valor e deixam o resto pra quem não ama tesouros que valham a pena. Sabem que nada no mundo lhes fará abandonar o que encontraram Sua busca chegou ao fim... ENCONTRARAM O TESOURO TÃO PROCURADO.
Viva os amantes apaixonados! Esqueça o mundo... E "be my love"
Ercília Ferraz de Arruda Pollice
Escritora, poeta, artista plástica,
membro da Academia Bauruense de Letras.
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