terça-feira, 28 de setembro de 2010

A grande guerra - por Míriam Leitão

"A demissão de Erenice Guerra do cargo de ministra-chefe da Casa Civil não desobriga o governo de investigar o caso. Ele tem indícios escabrosos de tráfico de influência no coração do governo e está ligado a uma pessoa que desde 2002 tem trabalhado diretamente com a candidata Dilma Rousseff.
Erenice é o elo entre este governo e o que pode ser o próximo. É preciso entender o que houve.
Há casos que começam simples e só com o tempo se complicam. Esse estourou já num grau de complexidade espantoso.
A ex-ministra parecia ser um consórcio: dois filhos, dois irmãos, irmã, ex-cunhada, assessor, mãe de assessor, irmão da mãe de assessor, marido, todos de alguma forma envolvidos em negócios ou conflito de interesses dentro do governo.
Sua primeira reação, quando começaram a ser publicados os abundantes indícios de irregularidades que a cercavam, foi fazer uma nota com timbre e autoridade do Palácio do Planalto acusando o candidato adversário de ser "aético e derrotado".
Mais uma inconveniência no meio de tantas, porque o primeiro a fazer era se explicar ao cidadão e contribuinte brasileiro.
Mas essa nota foi mais uma prova de que o Brasil não tem mais governo, tem um comitê eleitoral em plena e intensa atividade. A demissão de Erenice, que ninguém se engane, não é um tardio ataque de moralidade. É o resultado de um cálculo eleitoral.
A dúvida era o que poderia atingir a candidata Dilma Rousseff — manter Erenice, insistindo na tese de que ela era vítima de uma jogada eleitoral, ou demiti-la para tentar reduzir o interesse no caso?
Nada do que foi divulgado pode acontecer num governo sério. Filhos de ministra não podem intermediar negócios, não podem cobrar "taxas de sucesso"; assessor de ministra não pode ser filho da dona da empresa que faz a defesa de interesses dentro do governo; marido da ministra não pode estar num cargo público que dê a ele o poder de decidir sobre o fechamento do contrato que está sendo negociado.

Ministra não faz essas estranhas reuniões com fornecedores do governo. Há outras impropriedades, mas fiquemos nessas primeiras. A manchete da Folha de ontem trouxe a arrasadora entrevista de um empresário que, munido de e-mails e cópias de contratos, diz que foi vítima de tentativa de extorsão ao pedir um empréstimo no BNDES.
Além das taxas variadas e dos milhões que ele afirma ter sido pedido para a campanha da candidata do governo, chegou a ser pedido 5% num empréstimo de R$ 9 bilhões. Se ele fosse concedido, isso seria R$ 450 milhões.
Erenice Guerra trabalhou com Dilma Rousseff desde a transição, foi seu braço-direito, a enviada especial a missões difíceis, a pessoa a quem ela entregou o cargo quando saiu, em quem tinha absoluta confiança.
O vínculo não é criado pela imprensa, não é ilação, são os fatos. Esse não é o caso apenas do filho de uma ex-assessora, como Dilma disse no seu último debate. Esse é um conjunto assustador de indícios de um comportamento totalmente condenável no trato da questão pública.
Não é importante quem ganha a eleição. É importante como se ganha a eleição. A democracia estabelece que o vencedor é aquele que tem mais votos e ponto final. Cabe aos eleitores dos outros candidatos respeitar a pessoa eleita, a estrutura de poder que ele representa e torcer pelo novo governo. Portanto, ao vencedor, o poder da República por um mandato.
O problema é quando um grupo, para se manter no poder, usa a máquina pública como se fosse de um partido, quando um governo inteiro se empenha apenas em defender uma candidatura, e não o interesse coletivo, quando sinais grosseiros de mau comportamento são tratados com desleixo pelas maiores autoridades do país, sob o argumento de que se trata de uma briguinha eleitoral.
Nada do que tem acontecido ultimamente é aceitável num país de democracia jovem, instituições ainda não inteiramente consolidadas e desenvolvidas. Não importa quem vai ser eleito este ano, o que não pode acontecer é o país considerar normal esse tipo de comportamento que virou rotina nos últimos dias.
As atitudes diárias do presidente da República demonstram que oito anos não foram o bastante para ele entender a fronteira entre o interesse coletivo e o do seu partido; entre ser o governante de todos os brasileiros e o chefe de campanha da sua escolhida; entre popularidade e indulgência plenária para todo o tipo de comportamento inadequado.
O país pode sair desta eleição derrotado em seu projeto, o único projeto que é de todos os brasileiros: o de construir uma democracia sólida, instituições permanentes e a concórdia entre os brasileiros.
O caso Erenice Guerra é assustador demais para ser varrido para debaixo do tapete.Os indícios são de que a punição aos envolvidos no escândalo do mensalão, que agora respondem na Justiça por seus atos, não mudaram os padrões de comportamento dentro do governo.
A Casa Civil não pode estar sempre no noticiário de escândalos. É, na definição da candidata Dilma Rousseff, o segundo mais importante cargo do governo. Se é tudo isso, que se faça uma investigação do que havia por lá. Mas que não seja mais um "doa a quem doer" de fantasia; que não seja a apuração que nada apura, que perde prazos, que confunde e acoberta.
Não é uma eleição que está em jogo. Ela pode já estar até definida a esta altura, com tanta vantagem da candidata governista a 15 dias da eleição.O que está em jogo é que país o Brasil escolheu ser, neste momento tão decisivo de sua história.
Essa é a verdadeira guerra. (Portal)

8 comentários:

  1. Um a zero para você por ter trazido esse artigo da Miriam Leitão. Essa jornalista era uma amiga a toda prova do pessoal do PT, Soraia.
    Mas, quando as pessoas acordam, ou fazem todo o possível para virar pro lado e voltar a dormir, ou decide se mexer, redimir-se de alguma forma de seus posicionamentos anteriores.
    Convém nunca perder de vista as últmas frases do artigo que ela escreveu: "O que está em jogo é que país o Brasil escolheu ser, neste momento tão decisivo de sua história. Essa é a verdadeira guerra."

    Rodrigues

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  2. Chiste diz:

    Porque não votarei em Dilma

    Nenhum presidente administra sozinho seu país. E, com diz o ditado, “dize-me com quem andas e direis quem és”. Luis Inácio (Lula) não é modelo para ser seguido. Como administrador, é esbanjador com o que lhe interessa pessoalmente e unha de fome com o que não lhe dá projeção – haja visto o preocupante endividamento interno e os trocados para investimentos infra-estrutura.
    No cenário internacional (e nacional), cerca-se dos piores elementos, “nunca antes neste país” a tributação cresceu tanto. Como todo mau político, pensa que o estado lhe pertence e passa por cima da lei eleitoral com a maior sem-cerimônia. Como “democrata”, várias vezes já tentou dar jeitinhos para limitar a liberdade de imprensa.
    Acorda Dilma o Brasil não foi descoberto em 2002. Não podemos desprezar os feitos positivos dos governos anteriores. Sem os ajustes fiscais, monetário e cambiais do governo FHC, as reservas nacionais e a estabilidade tão comemorada não poderia ter sido concretizadas.
    Precisamos de políticos perseverantes nas boas causas e não de obstinados em se manter no pode. Esperamos que o próximo presidente seja forte, corajoso e que acabe com a impunidade e fortaleça a democracia. Chega de populismo. Não queremos ser a Venezuela de amanhã.
    Se eleita, Dilma “pretende” seguir o mestre. Diante da promessa da candidata, minha duvida se encerra e voto no Serra: O BRASIL PODE MAIS E MUITO MAIS.

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  3. Chiste, obrigado pela verdadeira lição de civismo e brasilidade.

    Rodrigues

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  4. Soraia, gostei demais da frase que ilustra o seu blog: "Comunicadora, blogueira, aventureira das palavras, quiçá tuareg de saia e rímel."
    Isso é mulher guerreira, sem dúvida. Que Allah o misericordioso a cubra de bençãos.

    Rodrigues

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  5. O investimente em infra-estrutura ainda é insuficiente, porém, superior a qualquer outro anterior. Nosso país nunca foi tão respeitado no cenário internacional (onde Lula anda muito bem acompanhado), de mero seguidor, e instrumento das políticas criminosas daqueles que visam comandar o Globo Terrestre, se fez destacado defensor dos direitos humanos.

    Enfim,o que está em jogo neste enfrentamento entre as "elites", seu braço ideológico (a midia golpista) e Lula/Dilma (o povo) é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e no fundo, velhista ou o Brasil novo com personagens históricos novos,que antes eram sempre mantidos à margem, e que agora vem despontando, enérgicamente, para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

    Esramos reperesentados na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia golpista e elitista. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

    O investimente em infra-estrutura ainda é insuficiente, porém, superior a qualquer outro anterior. Nosso país nunca foi tão respeitado no cenário internacional, de mero seguidor, e instrumento das políticas criminosas daqueles que visam comandar o Globo Terrestre, se fez destacado defensor dos direitos humanos.

    Ps> O brasil sempre pode mais, mas, FHC e sua turma não perceberam isso. Agora perderam o pulso da história

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  6. Chiste, não é necessário ir além do que você já disse. Apenas faço minhas as suas palavras, se me permite.

    Rodrigues

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  7. Chukran, Rodrigues, chukran!

    W. Lyrio, o pulso da história pertence a quem queira de fato transformá-la e não usá-la para construir um santuário ad eternum de poder.

    Chiste, como sempre... Acrescentando ao blog!

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Obrigada por sua participação em meu blog!