domingo, 30 de setembro de 2012

A irreverência do ris(c)o II


          
 Hebe Camargo entrevista Dercy Gonçalves em seu programa na Rede Record, em 1969  - Foto/Divulgação


           Pra quem se lembra, há 4 anos presenciamos através da mídia, um enterro incomum. Ao invés de silêncio e choro, bateria de escola de samba e aplausos. Foi assim que a comediante mais polêmica que o Brasil já conheceu, nascida Dolores e conhecida como Dercy Gonçalves despediu-se de seus fãs e simpatizantes. Curiosamente no ano de 2008 perdemos também a antropóloga Ruth Cardoso que a maioria dos brasileiros aprendeu a chamar de primeira-dama, título que a professora universitária repudiava. Naquele ano ainda, Hillary Clinton perdeu a corrida por uma vaga no partido democrata para disputar as eleições presidenciais, Ingrid Betancourt foi libertada pelas FARC e Aleida Guevara esteve em Cascavel para proferir palestra sobre o legado de seu pai, revolucionário sonhador para alguns, terrorista militante para outros. A Argentina agonizava (e ainda agoniza) em sua crise interna, cuja protagonista, Cristina Kirchner, poderia muito bem entoar em família o hino Don’t cry for me Argentina sem temer qualquer crítica: o papel de protagonista sofrível do país vizinho lhe cai muito bem. Setembro de 2012, 4 anos depois, presenciamos novamente mais um enterro incomum: a alegria manifestada em forma de apresentadora, se cala. Vai embora, sai de cena sem dar o último selinho em seu público. Em Cascavel, duas mulheres disputam a corrida ao paço municipal, enquanto outra concorre como vice, depois de enfrentar uma disputa consigo e com o partido. E aqui não cabem juízos de valor ou críticas - quaisquer que sejam - sobre a candidatura das mesmas. O foco é: o que estas mulheres têm em comum para ganhar as páginas dos jornais e ocuparem espaço na mídia? Em algum momento de suas vidas, elas arriscaram. 

          Errando ou acertando, saíram da posição de esposa, mãe, profissional e partiram em busca de um sonho acalentado talvez na infância, ou aflorado por qualquer circunstância que o valha. Estão tentando. E digo, com absoluta convicção, que é muito mais cômodo e seguro (por que não dizer?) limitar-se ao exercício de nosso trabalho – apreendido nos bancos escolares ou na escola da vida – e às atividades de casa do que adentrar no universo masculino e posicionar-se junto (ou contra) àqueles que fizeram da política e dos outros setores, um ambiente predominantemente masculino. E não torçam o nariz argumentando que as mulheres têm direitos iguais e que entram nessa por oba-oba. 

        Poucas arriscam. Poucas se expõem. Por isso quero registrar a tentativa, a luta aguerrida e ousada de muitas que desafiam o poderio que impera por aí, lutando contra o preconceito arraigado em nossa cultura. Dizem por aí que há uma pesquisa que comprova que a mulher é incorruptível - ou menos que o homem. Sinceramente, creio não ser prerrogativa do gênero feminino e sim de caráter. E caráter independe de gênero. Mas comecei essa prosa falando em Dercy Gonçalves e na saudade que tenho de ver sua irreverência escrachada e a autonomia de falar o que bem quisesse que a experiência dos anos lhe conferia. Saudade de sua ousadia, que certamente soltaria um “que p&#*a é essa?” se pudesse ler este artigo.  Saudade agora da simplicidade e carisma de Hebe Camargo, que improvisava no palco e divertia seu público até quando cometia gafes. Era verdadeira. Aliás, poucas pessoas vivem quase um século sem rabo preso com ninguém; elas conseguiram. Mas o importante mesmo é tentar. Arrisque-se mulherada!

sábado, 29 de setembro de 2012

My sweet brother...




Saudade se explica pela distância que não dá pra apalpar
Pelo silêncio das lembranças ruidosas e descaso do abraço
Quando o vazio se transforma em longe e o longe transforma
A alegria em olhar perdido – fiquei órfã do seu sorriso
Ausência de cheiro, de toque, de referência de infância e cumplicidade de futuro
Se explica pelo que não é explicável – é sentido
Muda a forma de ver o mundo
O que era comum vira, de novo, saudade
Tanto tempo, tantos sonhos, tanto frio de ausência
Na certeza do que sabe, do que ama, me conforto e espero
Mas a saudade, ah... Saudade, sempre... Sandro!

Feliz aniversário, meu irmão amado! Que Deus cuide direitinho de você, nosso precioso!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012