terça-feira, 2 de março de 2010

Entreolhares - por Soraia David

Às vezes deixamos de olhar para as coisas mais importantes de nossas vidas, e desviamos o olhar para outras, menos significativas. São os erros. Queria descobrir o autor da famosa frase que diz que é com os erros que se aprende. Os erros poderiam ser evitáveis, contornáveis, totalmente dispensáveis.Tudo bem que nós, mulheres somos munidas do sexto sentido ou intuição feminina, como queiram chamar. “Eu sabia que isso não daria certo”, “Algo me dizia que terminaria assim...” É fatal. Mulher sabe dessas coisas, não me perguntem como nem por quê. Simplesmente sabemos. Mas temos o péssimo hábito de teimar, achando que podemos lograr êxito e passar a perna no alarme fantástico com o qual o divino nos agraciou. Por que cargas d’água então, insistimos no erro? Há muitos anos, feministas de toda sorte e parte do mundo reivindicavam direitos e conquistavam espaços que até então eram de ordem eminentemente masculina. Com tais conquistas e olhares de admiração – sim, as mulheres são suscetíveis ao ar de inveja que as rodeiam por conta da segurança individual, da independência financeira e por que não mencionar, afetiva também – nos perdemos um pouco sobre nosso “desenho” no mapa-múndi rabiscado pelo Criador. Nossas casas ganharam um aroma de ausência, nossos filhos e maridos passaram a conviver com nossa presença-relâmpago (como a deles!) e confesso – isso tudo parece ter saído da ordem natural das coisas. Onde as mulheres pretendem ir, ao embarcar numa guerra dos sexos com o firme propósito de abater o gênero masculino?

Que os homens travem batalhas homéricas, que se lancem em desafios titânicos, mas POR NÓS, e não contra... A vida tem se mostrado difícil e inflexível com as pessoas que endurecem seu dia-a-dia com o pensamento de “ter” mais e não de “ser”. Por que não aprendemos a ler seus sinais e nos aproximamos do modo simples da convivência humana? Em qual parte mesmo, nós, mulheres nos perdemos? Afirmar que a solidão é o preço justo que se paga pela carreira de sucesso e toda a independência do mundo é a coisa mais tola que já ouvi. Não há, em toda a história, alguém que tenha experimentado sensação melhor e mais completa de amar e ser amada. O único “porém” é que para tal empreitada, é preciso pagar um preço também, afinal, nada nessa vida parece sair de graça.

Erros e acertos, escolhas e consequências. Nossas condutas parecem estar ligadas intrinsecamente ao olhar de reprovação daqueles que vieram antes de nós. Sim, os homens. Viver sem eles, impossível. Mas até que ponto estamos dispostas a ceder em nome de tudo que não represente nós mesmas e aquilo em que acreditamos? Reflexão simples, linear e objetiva, como todo pensamento feminino. Ensaiar a vida, estrear o melhor e mais belo espetáculo que há dentro de nós. Ser mulher não pode, afinal de contas, ser tão difícil assim.

3 comentários:

  1. Nanda Vieira diz

    (Mas até que ponto estamos dispostas a ceder em nome de tudo que não represente nós mesmas e aquilo em que acreditamos?)

    Vc traduziu o que penso o tempo todo, Soraia. Muito sensível e claro seu texto, me fez pensar como a gente busca ser "livre" e a mesmo tempo como a gente quer contar com a proteção de alguém. Um bj!

    ResponderExcluir
  2. Sinto uma indecisão no ar? As mulheres afinal de contas são seres maravilhosos que temos por obrigação e prazer acalentar com a leveza de nossa alma e a firmeza de nosso carácter. Uma mulher que se entrega por completo (por completo quero dizer sem futilidades, de corpo, coração e mente) são raras e por isso mesmo constituem a jóia para quem a encontra. Eu já tive a minha, infelizmente não está mais entre nós. ua escrita me fez lembrar a forma dura com a qual me dizia algumas verdades mas que se tornavam doces quando me olhava com amor. Aroma de ausência está lá e aroma de saudade das danadas tbém.
    muchiba2.0agora

    ResponderExcluir
  3. Soraia, eu não me abalancei a comentar este texto seu, porque nada, absolutamente nada que eu diga vai acrescentar qualquer coisa. Está simplesmente primoroso.
    Aliás, chega um momento em que me dou conta de que tudo o que você diga é como um "accompli". Coisas absolutas e perenes.
    Rodrigues

    ResponderExcluir

Obrigada por sua participação em meu blog!