domingo, 2 de novembro de 2008

ARTIGO - COISAS DO BERÇO - por Hi Kyung Ann

"Eu tinha uns sete anos e morava na Coréia. Um dia estava voltando para casa e no meio da rua achei uma nota que deve valer uns 20 reais atualizando. Cheguei em casa com o dinheiro e mostrei ao meu pai. Quando ele soube como eu tinha achado, me disse que eu tinha cometido um erro, pois quem perdeu a nota deve estar procurando e eu não devia ter pegado, pois a nota não era minha. Na hora sai de casa e voltei ao lugar onde tinha achado a nota e coloquei no mesmo lugar com uma pedrinha em cima para não voar e fiquei sentada agachada ao lado da nota esperando aparecer o dono da nota. E se ele aparecesse, eu pretendia pedir desculpa por ter pegado a nota que não era a minha. Quando meu pai percebeu que eu tinha saído e demorava em retornar, mandou a empregada a me procurar, e me achou sentada no meio da rua agachada ao lado da nota. Como não aparecia o dono da nota desiste de esperar e voltei para casa. Ao chegar em casa com a nota, pai me perguntou o que eu ia fazer com a nota, ao responder que não sabia, recebi repressão do pai por ter pego uma coisa que não me pertencia e ele achava que eu devia tentar devolver ao dono da nota e fomos à Delegacia mais próxima da casa. Na Coréia todo o bairro tem delegacia. Na delegacia fizemos Boletim de Ocorrência e voltamos felizes para casa, com a nota cheguei a sonhar quanta guloseima poderia comprar, mas não teria ficado mais feliz se tivesse gastado com guloseima. Após um ano, na verdade eu já tinha até esquecido da nota, recebemos um comunicado da Delegacia me chamando, quando fomos, fui recebida pelo delegado que me informou que durante um ano não tinha aparecido um possível dono da nota e nenhum BO sobre a perda da nota, sendo assim a nota seria a minha. Com meus oito anos fiquei meio frustrada ao relembrar sobre a nota. Neste momento o meu pai perguntou o que eu ia fazer? Como eu não tinha plano nenhum, meu pai sugeriu a doar a nota para caixa de flagelados da enchente, lembro que prontamente concordei e mais uma vez fiquei feliz com o destino da nota. Ao sair da delegacia, meu pai me elogiou e me levou numa confeitaria onde ele gastou muito mais que 20 reais com guloseimas. Assim vivemos felizes para sempre.
Obs : lembrei do episodio ao ler artigo “Presidente, vá se danar”, que foi publicado no dia 28/09 na página do jornal 'O Paraná'. " Hi Kyung Annhi.kyung@terra.com.br

Um comentário:

  1. Dra. Hi, levar vantagem em tudo tem sido a tônica no Brasil, de várias gerações para cá. Ficar com algo que não nos pertence É o que muitos pais não só ensinam, como procuram sempre dar mau exemplo.
    Muita coisa indesejável abandonei, como fumar, tão logo meu filho veio ao mundo, porque eu não teria autoridade moral alguma para lhe ensinar bons hábitos se eu mesmo mantivesse aquele que iria me trazer algumas consequências indesejáveis. E assim nas menores coisas, porque se não nos vigiamos no que temos de mínimo, não teremos como dominar os grandes problemas dentro de nós.
    Ainda bem que temos casos edificantes na televisão de pessoas pobres que encontram fortunas e lutam para encontrar seus legítimos donos. Enquanto tivermos no País pessoas assim, podemos ter a certeza de que nem tudo está perdido.

    Zé do Coco

    ResponderExcluir

Obrigada por sua participação em meu blog!