sexta-feira, 6 de maio de 2011

Historinha pra boi dormir

Se ouvir história fosse coisa boa, os árabes não estariam se matando nos dias de hoje, a exemplo dos grandes nomes que a literatura árabe traz em seu bojo - preciso registrar o encantamento que a leitura de "Alf layla wa-layla" (As Mil e Uma Noites) ainda exerce sobre mim, de compilação antiquíssima e variada de contos populares do Oriente Médio e do sul da Ásia, compilados em língua árabe e traduzido para o mundo ocidental pelo francês Antoine Galland.
Há mais, muito mais. Naguib Mahfouz, Taha Hussein, Tawfiq al-Hakim e M. Hussein Heikal, Khalil Gibran e Mihail Naima, os dois últimos incorporaram o pensamento filosófico às suas obras, resultado interessantíssimo. Cá em terras tupiniquins também temos nossas preciosidades literárias que me fazem flutuar ao ler suas palavras encantadas, suas construções linguísticas que poetizam até a atmosfera que envolve o leitor. Um deleite! Pois bem, mas tem histórias também que produzem efeito contrário e hoje vou contar uma.
Num país próximo, havia uma princesa que havia se libertado de seu cativeiro há pouco tempo e encontrava-se em tal estado de furor e animação que não escondia seus desejos por novas aventuras. Empreitada perigosa, pois a princesa dos olhos caídos tinha uma reputação a zelar perante o pai, rei letrado e tradicionalista e as atividades que ela desempenhava junto a divisão educativa do reino. Mas a princesa dos olhos caídos não resistiu aos apelos da liberdade que experimentava e aventurou-se em reinos distantes, para não ser reconhecida em seu quintal. E lá se foi a diva brega aos encontros às escuras para saciar sua lascívia e suas necessidades camufladas pela atividade que desempenhava em seu reino. Eis que um dia conheceu um príncipe de um reino vizinho e encantou-se por ele! A atração e dependência foi tamanha que as correspondências entre ambos passaram a estreitar-se cada vez mais até culminar em um encontro no reino do príncipe, pois a princesa dos olhos caídos, a bordo de sua pequena carroagem, não poderia esperar mais. Depois do tão esperado encontro, as promessas de amor restringiram-se a correspondências por telégrafos e pombos-correio, num arsenal de melodias e frases feitas que enredravam até o mais indiferente mortal à rendição do amor. Até que a princesa dos olhos caídos percebeu que o príncipe tão idealizado por ela estava mais para visconde. Aí o reino ficou pequeno para tamanha indignação e fúria. A princesa dos olhos caídos mandava mensagens através dos pombos-correio que regressavam sem resposta alguma. Fail na comunicação alada. Fail no coração da princesa dos olhos caídos. Então ela surtou e depois de mandar assar os pobres bichinhos que serviam de mensageiros, recolheu-se em seu reino e pousou seus olhos caídos sobre um plebeu na tentativa de esquecer o príncipe que transformara-se em visconde. Onde andaria o desgraçado? Com qual personagem estaria ele contracenando naquele momento? Ela precisava saber e passou a perseguir a princesa escolhida pelo visconde - ou príncipe, já não sei mais - com o intuito de despejar no romance que vislumbrara, o fel real que lhe sufocava o peito... (Continua amanhã...)

2 comentários:

  1. hehe, metáfora... tô gostando!
    continua!

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  2. Adorei! Uma espécie de "A história do príncipe que não ligou no dia seguinte", afinal quem disse que sem vergonhice é invenção da idade contemporânea? Mal posso esperar para continuar...

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