domingo, 16 de outubro de 2011

O DIA DO PROFESSOR e os caminhoneiros... - por José Rodrigues Filho

O texto abaixo foi escrito por um homem por quem nutro profunda admiração e respeito. Conhecedor profundo da história do Brasil e do mundo, além de ter convivido de perto com políticos e com as feridas da sociedade que tão bem conhece e escreve a respeito. Zé Rodrigues, muito obrigada por escrever especialmente para o blog. São palavras que golpeiam a hipocrisia e  mentira estampadas por nossos governos e sistemas de ensino há anos! Grande abraço e bom domingo, mestre!


Afinal, QUAL é o dia do professor? 15 de outubro? Quem afirmar isso, vai errar feio. Professor não tem dia. Não tem mês, não tem hora, nem tempo para cuidar da família às vezes.
Pediram-me para falar deste dia. Não falo. Sou rebelde, acho que os professores não têm um dia determinado, é pura fantasia, pura demagogia para cima de uma classe que em nosso País deixou de ser valorizada há muito tempo.
E a gota que faltava foi quando elegeram um presidente semialfabetizado que depois de cumprir seu mandato saiu pelo mundo a ganhar títulos de doutor honoris causae. Professores não são premiados. Analfabetos sim.
Professores são pisoteados por cavalos da Polícia Militar. Professores são espancados pela polícia porque ousam (imaginem só se pode isso...) pedir reajuste salarial. Não aumento, só reajuste.

Nas profundas dos grotões deste País professores são espoliados do pouco que têm. Nem para um café da manhã decente eles chegam a ter o suficiente. Raríssimos os que podem comprar um par de sapatos decentes para ir à missa aos domingos.
Professores no Brasil são os párias da sociedade, os intocáveis que as castas superiores querem ver relegados a buracos, não casas, de onde só saiam para chegar à escola muitas vezes com fome e ser agredidos por alunos.
Gostaram dessas imagens? Não, tenho certeza. Mas nossos professores passam por coisas muito piores do que isso, por isso decidi falar sobre eles um dia depois do dia que dizem ser dos professores.

Na minha infância eu fui bem aquinhoado pela sorte, tive professores compreensivos, dedicados, quase como se fossem meus segundos país. Não tenho nada contra eles, portanto. Devo-lhes muito do que sou.
Para não dizer que fico aqui idealizando a figura do professor, quero falar daqueles que vão na conversa fiada de lideranças fajutas que os empurram contra o poder constituído, como se esse tivesse culpa de os professores de um modo geral ganharem mal.
Alguns chegam a dizer que caminhoneiros ganham por mês o que muitos professores não ganham o ano inteiro. Mentira. Aqui no Brasil os professores PRIMÁRIOS é que ganham bem menos do que alguns caminhoneiros, os professores secundários e universitários ganham em geral muito bem.

Contudo, se você me disser que NOS ESTADOS UNIDOS os professores em geral ganham bem menos que os caminhoneiros, vou ser obrigado a concordar com você. LÁ, sim, a afirmativa é verdadeira. Lá os caminhoneiros em geral devem ter curso especializado para pegar no volante de um caminhão, porque em sua maioria são verdadeiras naves espaciais, providas de toda espécie de bugiganga tecnológica – computadores de bordo, sistema de rastreamento via satélite, rádios e telefones sem fio, enfim, em poucos lugares do Brasil temos esse tipo de coisa. E os caminhoneiros brasileiros vão chegar lá, a maioria vai pilotar uma charanga metida a nave espacial e os professores vão continuar com giz e apagador ensinando a tabuada a alunos que acham que podem levar revólveres para dentro da sala de aula.

Mas, afinal de contas, por que estou falando dos professores sendo que o seu dia foi ontem?
Não, ontem não foi o dia dos professores, ontem foi o dia reservado pela demagogia e pela omissão das autoridades para mostrar que se lembram dos professores. Como intocáveis, como leprosos, mas necessários. Hoje mais que nunca...

8 comentários:

  1. Perfeito...Grata por este olhar diferenciado do Dia do Professor do que estamos tão acostumados a ver, palavras sábias de grande valor...
    "Ser educador é pintar omundo de todas as cores, é poder fazer sorrir as crianças, é ajudá-las a aprender...Ser educador é profissão de AMOR, ser cultivador de amizades, movido por sentimentos profundos que carrega no peito os valores essenciais...o orgulho de ser EDUCADOR...O valor da sabedoria é melhor do que a dos rubis...e esse é o valor do Educadoor maior do que a dos rubis, e apesar de tudo isso ADORA O QUE FAZ...e quando se aborrece...basta um SORRISO, UM ABRAÇO de uma criança... que o stress desaparece e dá vontade de recomeçar"...

    Soraia obrigada por nos presentear com este texto, grata!!! Grande abraço Professora Simone

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  2. Soraia, eu escrevi esse texto inspirado em pessoas como você,pessoas que eu amo e que sentem a dimensão do que é ser professor.
    E, claro, eu tinha de ser rebelde, não escrever um texto sensaborão para ser publicado no dia dedicado aos professores.
    Você nunca vai me ver usando chapéu. Não. Quero ter a cabeça descoberta para demonstrar a cada minuto o meu respeito pelos professores.
    Eu os amo, por isso estou sempre de cabeça descoberta,
    Se Deus algum dia me aquinhoar com uma parcela do poder necessário para abrir aos professores espaço em seu meio profissional para exibir os talentos divinos que têm, e de passagem ganharem salários decentes, pode estar certa, isso eu vou fazer.
    Em cada cidade quero um dia poder criar vilas chamadas de "cantinho dos professores", de onde eles nunca sejam alijados e despejados. Bairros com jardins, pomares e toda sorte de gulodice com que premiem seus filhos. Casas que passem para seus filhos depois que a vida tirá-los de nosso convívio para viverem no Paraíso, onde a misericórdia divina seja uma realidade presente. Onde a misericórdia divina os recompense por seus esforços.
    Se Deus me der esta graça antes de resolver me levar desta vida, quero ter o prazer de ver VOCÊ. Soraia, cuidando desse projeto de vida e se tornando uma prefeita como Cascavel nunca teve igual.
    Um abração.

    Rodrigues

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  3. O mérito pela leitura do texto acima é inteiramente de José Rodrigues Filho, profª, portanto é a ele que deve agradecer.

    Estimado Rodrigues, costumo dizer que o mundo poderia ser feito de poesia, embora saibamos que o sistema é duro, racional e dispensa estratégias poéticas. Que pena. Temos a tecnologia, inovações no campo da capacitação humana mas suas palavras lembram-me que não podemos nos deixar levar pela tecnicidade das coisas. Chaplin ilustrou bem - 'Não sois máquinas, homens é o que sois!'

    Obrigada pela sabedoria, criticidade e poesia de sempre, meu bom amigo! E a honra de conhecê-lo pessoalmente será minha, sem dúvida alguma.

    Grande abraço!

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  4. Na Korea, quando perguntam aos alunos
    " o que voce gostaria de ser quando crescer?"
    Os alunos respondem " presidente" e as alunas respondem " professora".

    Um dia vamos chegar...

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  5. Concordo com você Soraia, o texto de JOSÉ RODRIGUES FILHO é simplesmente...FANTÁSTICO!!!Agradeço a ele a oportunidade de poder através do seu blog, ler palavras tão especiais que simplesmente ao ler nos emocionam profundamente!!!Resta-me desejar boa semana a todos e principlamente aos que amam sua profissão de EDUCADORES. Com carinho, PROFESSORA SIMONE

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  6. Sabe qual é o meu medo, Hi? É que o avançadíssimo sistema educacional de seu país de origem acabe se igualando ao brasileiro. Argh!
    Enquanto permanece tal qual está, há esperança de que no Oriente impere a sabedoria.

    Rodrigues

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  7. Professora Simone, obrigado por suas palavras. Vou guardá-las com carinho porque tudo que venha de um professor para mim tem cheiro de saudade, de afeto, de tempos de minha infância no primário, de tardes estudando no ginásio de minha cidade, de puro afeto espontâneo que tive dos professores que passaram por minha vida e a marcaram de forma definitiva.
    Rodrigues

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  8. Depois de mais de 50 anos,ainda lembro nome da minha professora de 1º ano de primario.
    Quando eu faltava aula, no fim da tarde ela comparecia na minha casa para passar lição do dia, assim eu podia acompanhar as aulas sem perdas.
    Minha classe tinha 95 alunos de 6 a 7 anos, professora nunca usou microfone, na verdade não existia...ela era minha heroina, pois aprendi em casa que a professora é a segunda mãe da gente.

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