segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dia das Mães - o outro lado da moeda

"Com a plena aprovação do Juizado de Menores e do Conselho Tutelar, assumimos a minha mulher e eu a guarda de duas crianças, um casal de belas e inteligentes crianças que trouxeram algo a mais para nossas vidas, a Renatinha de pouco mais de 1 ano e o Wesley, de quase 5 anos. Foram tirados da mãe que, segundo denúncias de vários vizinhos, os tratava como estorvo, uma vez que preferia cercar-se de homens e manter orgias e boca de fumo em casa. Não poucas vezes as crianças eram encontradas imundas, com fraldas por trocar e precisando de banho. Além de desprotegidas do frio e engatinhando pelo piso gelado da casa. O pai delas, meu sobrinho, saía para trabalhar e era o sinal para indivíduos desqualificados começarem a chegar à casa, atravessando a noite em farras e incomodando vizinhos. Meus cunhados não sabiam como resolver a situação, porque, sendo pobres, tinham de trabalhar para seu sustento e não tinham como ficar em casa e cuidar dos netos como mereciam. Sugeri que procurassem o Conselho Tutelar e nós assumiríamos juntos a tarefa de cuidar das crianças. Tudo correu bem e os petizes se adaptaram à nova vida. Embora já saiba articular algumas palavras, a pequerrucha não sabe o significado exato da palavra “mãe”. Chama a minha mulher por esse título e a irmã de minha mulher é “vó”. O garoto não conhece a mãe como tal, chama-a pelo primeiro nome, a fulana, sem qualquer emoção mais positiva. Para quem se criou sempre ao lado da mãe desde pequeno, é difícil conceber que alguém não conheça algo equivalente a uma mãe. Toda a família se desvela no cuidado com as crianças, embora só nós tenhamos a guarda delas. Em pouco tempo nossa casa tornou-se ponto de encontro de todo mundo, com direito a brincadeiras que envolve todas as crianças da família. No Dia das Mães, as crianças ficaram com os avós paternos e voltaram a nós com direito a comitiva e tudo mais, um bando de tios babões e cheios de amor para dar. O que será pior? Crianças que foram tiradas do alcance de uma mãe irresponsável e imprestável? Ou crianças que chegam a um domingo deste e são bombardeadas pela mídia com sugestões sobre o Dia das Mães, “dar presente para a mamãe”, “dar beijo para a mamãe” etc.? Nós não queremos pensar no assunto por enquanto, queremos ser pais, tios, mães, avós, tudo para essas crianças resgatadas a tempo de uma vida que não é vida. Todos na família têm um ponto em comum: tivemos mães na plena acepção do termo, sentimos dentro de nós o vazio que elas deixaram, porque se foram há muito tempo, deixando-nos lembranças preciosas que nunca vamos apagar de nossos corações. Assim como o meu filho pôde contar sempre com a mamãe, essas crianças vão ter em nós mães, tios, avós, todos juntos no ato de cercá-las de carinho e muito calor, porque, se não somos ricos financeiramente, temos muito a dar de nós em presença, atenção, cuidado, desvelo, proteção. Esse fantasma que é a falta de uma mãe eles não terão de encarar, porque todos nós queremos bem essas crianças e temos como vitória inapreciável o fato de que, embora tenham sido enjeitados pela mãe carnal, essas crianças têm em cada uma das tias uma mãe, em cada tio um pai, além do pai que não sai de perto delas, mais uma penca de pais que não vai abandoná-las à própria sorte. Nossa recompensa? Ora bolas, que recompensa maior podemos ter nós do que ver seus rostinhos alegres, corados, saudáveis e gorduchos, de onde foram espantadas as expressões de medo e choro de fome que já enfrentaram em suas curtas vidinhas?"
José Rodrigues Filho

2 comentários:

  1. Tive a oportunidade de expressar minha admiração pelo carinho com o qual você e sua esposa educam os filhos dos outros, caro Rodrigues e também pela preocupação que têm com o futuro e bem-estar dos mesmos. Não há comprovação maior de amor ao próximo e generosidade irrestrita como a que vocês e tantos outros que conheço denotam com tais atitudes. Um abraço da amiga que cada vez mais o admira!

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  2. Soraia, alguém, dois mil anos trás, disse que quem faz algo e com isso fica satisfeito, "já recebeu sua recompensa".
    E você sabe, melhor do que muita gente, que quanto mais se faz pelo "outro" mais satisfação alcançamos dentro de nós mesmos. Não há, de fato, nada melhor do que investir em pessoas, pavimentar o caminho à frente das crianças.
    Mas o seu elogio nos enche de satisfação pessoal, porque você é uma pessoa digna e honrada.

    Rodrigues

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