sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ARTIGO - Entre Marisas e Evitas

Lembrei-me, dias desses, da entrevista que a candidata à prefeitura de Curitiba, sra. Gleisi Hoffmann concedeu-me há algum tempo, por ocasião de sua candidatura a uma cadeira no senado. Bem vestida, sorridente, Gleisi é uma bela mulher e articulou-se com extrema simpatia durante a entrevista. Agradeceu aos paranaenses pela votação expressiva, embora não tenha sido eleita e respondeu às minhas perguntas com educação e serenidade. Até aí, tudo bem. Nenhuma resposta ou posicionamento que desabonasse a entrevistada. De repente, veio a decepção: lancei um “... como a senhora, profissional atuante, mãe, esposa e cidadã que vem se destacando no cenário político encara a apatia da primeira-dama, dona Marisa Letícia ante os diversos problemas sociais existentes no país? Ela não poderia arregaçar as mangas e ao menos ‘mostrar’ que se preocupa com os eleitores de seu esposo?” Ela poderia ter dito qualquer coisa, menos o que realmente falou nos minutos seguintes. Gleisi parecia a porta voz da presidência ao defender que a conduta de primeira-dama tem que ser tal e qual como a que dona Marisa Letícia vem desempenhando, ou seja, em meu entendimento, inexpressiva. Ao salientar que ela, Marisa, já tem compromissos demais por conta do status de esposa de Lulla, Gleisi involuntariamente refutou todas as ações que as ex-primeiras-damas cumpriram até aqui. À medida que ela despejava seus argumentos defensórios, minha incredulidade crescia, discreta, mas aumentava. Emendei, em seguida, questionamentos que a fizessem reconhecer a importância que permeia as atitudes de quem divide a cama e a convivência com o homem mais poderoso da nação. Nada. Comento no dia de hoje um fato ocorrido no passado, pois ouvi uma das canções do musical de Alan Parker sobre Evita, que gosto muito de escutar. Não, não preconizo em absoluto o peronismo argentino nem comungo dos expedientes usados por Eva Duarte para cativar ou escravizar emocionalmente o povo argentino. Mas é de parar pra pensar como uma primeira-dama soube despertar tamanha paixão e esperança numa nação desacreditada. As pessoas esperam sempre que alguém do governo faça algo por elas: um gesto de carinho, atenção e preocupação, algo que sinalize humanidade vinda lá de cima. Falta a mãe dos pobres, a mulher que deveria comunicar-se diretamente com eles e passar-lhes uma mensagem de otimismo, perseverança ao menos. Onde está dona Marisa? O que ela faz enquanto o presidente governa o país? Responder que ela o acompanha nas viagens e protocolos a cumprir não basta. No século XXI não há espaço para primeiras-damas que seguem à sombra do poder de seus companheiros. Pensemos melhor na contribuição que uma mulher à altura de um Chefe de Estado poderia dar ao seu povo, por menor que fosse, caso houvesse força de vontade. Como gosto de frisar, palavras comovem, mas exemplos arrastam. O povo precisa de exemplos. Bons exemplos, dona Marisa...

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