quarta-feira, 22 de abril de 2009

A anatomia oculta da notícia - por Luiz Weis

Foto - robertocordeiro.wordpress.com
Trinta e três chefes de governo ouviam o discurso do presidente Barack Obama na abertura da quinta Cúpula das Américas, em Port of Spain, na noite de sexta-feira, 17. Mas ele não falava para eles. Falava para a imprensa. Discursos de líderes políticos que sabem como se forma a opinião pública são estruturados para se transformar facilmente em textos jornalísticos. A sua concepção é a de uma matéria em potencial. Por isso contêm frases ou expressões cunhadas sob medida para serem as manchetes naturais do noticiário a seu respeito. Daí que no sábado os jornais de meio mundo deram na primeira página que “Obama pede (ou propõe, ou procura) “um novo começo com Cuba”. E deram, também, inexoravelmente, citações como “existem passos críticos que podemos tomar em direção a um novo dia”, “eu não estou interessado em falar por falar” e mais meia dúzia de disparos verbais de alta precisão. Falar para a imprensa, mesmo quando a platéia não é de jornalistas, requer ainda concisão – nada de submeter repórteres e editores, correndo contra o relógio, a leituras intermináveis. Daí que o capítulo cubano de fala de Obama, o mais esperado por todos, ficou em 2m50s, cerca de um terço da alocução inteira. Parafraseando o manual da revista britânica The Economist, parágrafos curtos, frases curtas, palavras curtas. Naquela mesma noite, o presidente da Nicaragua, Daniel Ortega, tomou 50 minutos do tempo de sua audiência para desancar os Estados Unidos pelo que fizeram e ainda fazem à América Latina. A imprensa só aproveitou uma frase – a comparação do boicote econômico a Cuba com o Muro de Berlim. E o improviso de Obama, agradecendo ironicamente a Ortega por não tê-lo culpado por coisas que aconteceram quando tinha três meses de idade. (Observatório da Imprensa) Continue lendo...

Um comentário:

  1. A diferença aí, Soraia, está na inteligência de um presidente que sabia perfeitamente em que palco estava representando o seu papel. E utilizou técnicas de semiótica, coisa que presidentinho de paisinho de quinta categoria não vai aprender nunca. A bagagem cultural e técnica de Barack Obama é até covardia perto dos imbecis que comandam os países latinoamericanos. Esses não discursam nem falam, arengam. Soltam cantilenas, têm medo de deixar de falar, porque as palavras escondem quem realmente são. Atualmente não escapa um presidente na América Latina, são todos sem exceção demagogos, inimigos do povo que os elegeu.
    Barack Obama é como um cisne num lago tranquilo, enquanto os outros são aves de rapina disputando carniça e, se possível, a eternização no poder.
    As ideias que cabem confortavelmente dentro da cabeça de Barack Obama fundiriam os cérebros de todos aqueles que o escutaram no discurso.
    A técnica de oratória de Obama é uma inovação numa parte do mundo em que prevalece o discurso quilométrico. É também a ferramenta para o jornalista perfeito, frases e períodos curtos carregados de conteúdo e substância.

    Rodrigus

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