domingo, 2 de novembro de 2008

Dia de Finados - Por que reavivar a dor?

Sempre me pergunto o motivo de se "comemorar"o dia de finados, o dia dos mortos. Relembrar a perda, prolongar o sofrimento de quem perdeu um ente ou amigo próximo a data, reacender a dor que parecia ter virado cinzas.... Muitos poderão responder que é importante não esquecer, cultuar a memória de quem se foi (rs, como se pudéssemos esquecer das pessoas que conviveram conosco e nos marcaram das mais diferentes maneiras). Não gosto de finados. Não gosto dessa movimentação de compras de velas e flores, limpeza geral nos cemitérios e aqueles passeios intermináveis pelos corredores dos mesmos, relembrando o falecido dali, revendo a lápide daqui... Mórbido demais para o meu gosto. Acredito na continuação da vida após a morte do corpo físico, da evolução espiritual, de situações astrais que fogem à nossa compreensão terrena. Retirar-se, orar, ir a igreja ou templo com o qual se identifica, lembrar sempre de quem já partiu emanando sentimentos bons, energias benéficas... Isso me apetece mais, parece ter mais sentido pra mim. Quando meu pai faleceu, em sua cabeceira (sim, ele esperou que eu chegasse para partir), prometi a mim mesma que, mesmo ele não me reconhecendo ou me 'ouvindo', ainda assim manteria a serenidade, e repeti, baixinho, em seu ouvido, que ele poderia partir tranqüilo, pois havia sido um pai exemplar, que o amávamos muito e que sua missão aqui havia terminado. Não me permiti chorar. Foi o contato mais próximo que tive com a morte. Até hoje, quando visito seu túmulo, em Tomazina, não me sinto à vontade. Sei que ele não está lá. Por que então cultuar o local como se fosse sua "última morada", como costumam falar? A última morada física era sua casa. É lá que ficou impregnada sua existência, sua vida, seus momentos como marido, pai, tio, avô e amigo. Sempre levarei comigo sua imagem e sua voz, seu olhar e sua forma de ver o mundo. Não preciso de um túmulo com seu nome para lembrar de sua existência. Seria pouco para ele. É pouco para qualquer pessoa que deixou de existir no mundo físico. Abaixo, as palavras de Santo Agostinho, com grifos meus, que descreveu com maestria sobre a morte...
A Morte não é Nada
A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho... Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi. (Santo Agostinho)

Um comentário:

  1. Neste campo existem várias correntes. Há até mesmo as pessoas que cultuam a memória dos seus entes queridos e de seus antepassados como se ali estivessem, reais, presentes. De certa forma todos os meus antepassado ESTÃO mesmo comigo. No meu DNA, por exemplo. Mas aquela presença de dizer oi! todo dia, essa eu não sei se volta. Se foram para algum lugar, não sei. Somos em larga medida aquilo que os pais e o meio social nos incute e muitas vezes somos proibidos de questionar a validade das crenças que nos empurram goela abaixo.
    Tenho uma visão um tanto diferente dessa situação, sou o que se chamaria agnóstico. Faz tempo demais que abandonei as crenças na existência de Papai Noel, embora a minha infânica esteja lá, ainda, no fundo do meu coração. E uma criança não questiona nem coloca dúvidas. Pode-se dizer que as crianças são agnósticas. Por isso são mais plásticas. Talvez seja por isso que um mestre, milênios atrás, disse para nos tornarmos como crianças, se quisermos herdar o reino dos Céus...

    Zé do Coco

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